Usinas do Rio Madeira tentam evitar erros cometidos em Balbina
18/08/09 - 11h02 - Atualizado em 18/08/09
Hidrelétricas poderão suprir necessidades de 20 milhões de habitantes.
Localizadas na Amazônia, elas têm meio ambiente como questão central.
Do Globo Amazônia, com informações do Jornal da Globo
O Madeira é um rio largo, cheio de peixes e com grande população ribeirinha, que vive em função de suas águas. É o principal afluente do Rio Amazonas. Nasce na Cordilheira dos Andes, na Bolívia, com o nome Mamoré e corre por quase 1.500 quilômetros no meio da selva até desaguar no Amazonas.
É no Madeira, na altura de Porto Velho, capital de Rondônia, que o Brasil está construindo duas hidrelétricas gigantes: 'Jirau', e rio abaixo, bem perto, 'Santo Antônio'. Construir duas megausinas na Amazônia não assusta? O que vai acontecer com a floresta quando os reservatórios de água forem formados? Não muito longe do Madeira, um exemplo negativo: a usina de Balbina, ao norte de Manaus, considerada uma tragédia ecológica.
O primeiro erro foi que a mata não foi cortada. As árvores ficaram embaixo d´água. O lago, um cemitério de troncos, é agora um grande produtor de gás carbônico e gás metano por causa da decomposição orgânica. Balbina emite dez vezes mais gases de efeito estufa do que uma termoelétrica a carvão de mesma capacidade.
Isso pode se repetir no Madeira? "Nos nossos reservatórios não vão ficar um galho de árvore nem para lenha. Justamente para evitar a emissão desses gases que podem ocorrer problemas na camada de ozônio", afirma o diretor da Usina Jirau, José Lúcio Gomes.
Erro número dois em Balbina: ela foi construída em uma planície. O lago é enorme e a geração de energia, mínima. Os reservatórios das usinas do Madeira serão pequenos por causa do uso de turbinas tipo bulbo, que geram energia usando mais a velocidade da água do que a queda da água.
As duas usinas do Madeira terão uma potência 26 vezes maior do que a de Balbina, mas o reservatório será bem menor. Terão apenas um quarto da área do de Balbina. Mesmo com esses cuidados, as usinas vão destruir parte da floresta, inundar cachoeiras, deslocar famílias.
É o preço a pagar na Amazônia, avalia Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás no primeiro governo Lula e um dos maiores especialistas do Brasil em energia. "Eu sou a favor de fazer as hidrelétricas mediante uma analise de cada caso, em que todos os benefícios e problemas sejam levados em conta. Então não é que se proíba, nem que se admita todas elas, mas sim que se decida caso a caso."
O físico acha que as usinas do Madeira são boa solução, ao contrário de Balbina. A decisão de construir Balbina foi tomada durante o regime militar. À época, o alerta de cientistas de que seria um desastre ambiental não foi levado em conta. Agora todos lamentam o resultado. A lição é que qualquer grande obra, principalmente na Amazônia tem que ser precedida de amplo debate. Não dá para ter pressa e cometer um erro sem volta.
Empregos
Quando ficarem prontas, as duas barragens do Madeira juntas terão uma capacidade de produzir energia que no Brasil só é superada pelas usinas de Itaipu e Tucuruí. Sozinhas, poderão suprir o consumo de 20 milhões de brasileiros. A previsão é de que custem R$ 22 bilhões, o equivalente a tudo o que o governo federal gastou em infraestrutura no ano passado.
No auge da construção, daqui a dois anos, os empregos diretos vão chegar a 20 mil pessoas. As obras já atraem trabalhadores de todos os estados. O mecânico José Augusto da Silva veio do Maranhão. "Procurar um futuro melhor para as nossas famílias. Para nós é oportunidade por um bom tempo. A gente está pretendendo ficar por aqui alguns anos."
"Eu vim de Abaetetuba, lá do Pará. São quatro dias e quatro noites de ônibus para chegar aqui viajando de ônibus", conta o mecânico Dário da Silva Dias.
Vanderlei Flausino chegou de Mato Grosso. "Vim para cá, graças a Deus minha família já está ao meu lado aqui. Estou aí para deixar um rastro também nessa barragem, que ela vai ser uma das maiores do mundo", diz o mecânico.
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